domingo, 18 de outubro de 2015

Fichamento do texto: "Pesquisa qualitativa em educação: pertinência, validez e generalização"


Referência:
ZANTEN, Agnès Van. Pesquisa qualitativa em educação: pertinência, validez e generalização. In: Perspectiva. Florianópolis, v.22, n. 01, p.25-45, jan./jun.2004.

Palavras-chave:
Investigação qualitativa na atualidade. O campo educacional. Interferências sociais e políticas.

Essência da obra:
Ao realizar a análise em questão, Zanten traz para o debate “uma visão global da investigação qualitativa” no campo educacional tendo como marco histórico o período atual. A autora ressalta o papel das transformações “sociais e políticas que devem conduzir a uma adaptação dos métodos qualitativos de investigação.” Isto é, existe uma interferência direta desses dois elementos (político e social) no processo de produção da pesquisa qualitativa. (p. 25). Ao apresentar sua visão, Zanten preocupa-se com “os problemas dos métodos e, sobretudo, a utilização dos métodos qualitativos no marco da sociologia da educação.” (p. 26). Diante disso, a autora destaca que outra preocupação concerne-se ao fato de que a pesquisa qualitativa foi desenvolvida num determinado momento histórico “da sociologia, da antropologia”, diante disso, ressalta ela, que o desafio está em adequar tais métodos de investigação “a uma realidade que tem mudado, uma realidade social, política, educacional que são diferentes.” (p. 26). É relevante frisar que de acordo Zanten, “os métodos qualitativos que [são utilizados] no campo da Sociologia da Educação são, em geral, herdeiros de duas grandes tradições: [...] da Antropologia, da Etnologia do que chamamos métodos etnográficos, e uma tradição da sociologia qualitativa.” (p. 26). E o desenvolvimento desses dois métodos se deu no final do século XIX e início do XX. Diante disso, é importante frisar que “a sociologia conserva uma grande tradição de trabalhar com grupos marginalizados”, não sendo este o caso da sociologia da educação. Zanten destaca dois aspectos relevantes da investigação qualitativa: primeiro refere-se ao “desenvolvimento do conhecimento, ou seja, cada vez mais encontramos sujeitos, atores sociais, que têm um nível de instrução mais elevado [...], segundo, o papel que tem, atualmente, o conhecimento científico como base de controle social, de poder e de avaliação de nossa sociedade.” É importante frisar que, a produção de conhecimento influencia diretamente “na reconstituição de posições de dominação.” (p. 27). Além disso, a autora destaca as relações de poder que são concebidas no decorrer da pesquisa, onde o pesquisador em geral é colocado como sujeito dominador, entretanto ressalta que isso vai depender do local onde se encontra esse sujeito investigado, sua cultura, política, conhecimento, já que isso diz muito a respeito de quem somos enquanto sujeitos. “Em muitos trabalhos sobre administração da educação, ao se comentar os temas de investigação, deparamo-nos com administrador que diz: ‘eu penso que sei o que você quer saber[...]. Assim, também com pais de classe média alta que dizem: ‘eu penso que você tem interesse nisto.’ (2004, p. 28) Essa relação se apresenta de forma diferenciada quando se trabalha “com grupos mais dominados, estes já estão familiarizados com a pesquisa.” É importante notar que a dimensão social e política influência diretamente no processo de relação de poder entre pesquisador e pesquisado. De acordo com Zanten “as mudanças sociais e políticas, ainda que nas menores situações do estudo, têm impacto e nos convidam a mudar nossa maneira de trabalhar.” (p. 30). A autora realça a relevância de se considerar “as categorias de análises” [para ela,] “essa problemática” se faz importante, a partir do momento que nos leva a refletir sobre os resultados da pesquisa. A investigação no campo qualitativo pressupõe que se entenda de forma global “as categorias que mobilizam os atores para compreender a realidade e para atuar sobre a realidade.” (p. 31). No que se refere “a validade das investigações qualitativas, é preciso observar, na avaliação, que os resultados das pesquisas qualitativas parecem, geralmente, mais abertos do que no caso das quantitativas. No campo da educação, eles são mais presentes e são mais difíceis de se trabalhar já que as pessoas se consideram experts em educação.” (p. 32). Isso porque é um campo onde são apresentados diferentes pontos de vista, ou seja, para cada pessoa as temáticas relacionadas a educação poderão se apresentar sob variados entendimentos. Vale ressaltar que como bem coloca Zanten, “todos os atores aplicam, de certa maneira, métodos de investigação para interpretar seu mundo.” (p. 33). Sendo as técnicas e o rigor científico o diferencial desse processo. A autora frisa que é importante saber fazer a seleção do material empírico a ser utilizado, ressalta, além disso, que para “estudantes investigadores iniciantes, a dificuldade está em cortar o material, aceitar a renunciar a uma parte dele.” (p. 35). Para Zanten, o objetivo da pesquisa não é somente buscar a veracidade dos fatos, mas sim, em entender a lógica  dos sujeitos pesquisadores, em outras palavras, como eles interpretam determinada realidade e agem diante da mesma, portanto, é relevante que se entenda “as categorias de interpretação que acionam os atores”. (p.36). Nesse sentido, ao produzirem pesquisas, “os autores produzem uma inteligibilidade parcial, sobre uma parte da realidade, extraindo certos fenômenos.” (p. 37). No que se refere “a generalização dos resultados”, para Zanten, existe uma tendência a não generalização dos casos, onde cada caso se apresenta como único. Nesse sentido, ela destaca que é importante que se construa “uma teoria de médio alcance” quando se trata de sistemas educativos. (p. 38). No que concerne a “dimensão comparativa”, ela destaca que “se temos uma situação local e outras situações locais que já foram estudadas podemos recorrer às comparações para mostrar que há um processo que é possível ou não de se generalizar, bem como de marcar os limites da generalização”.(p.39). No que tange “a dimensão da generalização é o trabalho de transição permanente entre o que revela de propriedades relacionais, conceituais e estruturais [...] não  parece pertinente opor a pesquisa macrossociológica à microssociológica[...]. [A forma como se conduz a pesquisa diz muito sobre os seus resultados, por exemplo,] quando vamos trabalhar, com fenômenos de globalização, vamos trabalhá-los de maneira localizada. Quando trabalhamos em uma pequena escola verificamos que está havendo um fenômeno de globalização das políticas educativas.” (p. 40). Nesse sentido, para a autora “um bom trabalho de pesquisa, requer a capacidade mover-se com facilidade entre dois níveis e de mostrar que há uma margem de ação entre os atores mas, ao mesmo tempo, que o comportamento dos atores refletem mecanismos, processos estruturais e, portanto, são suscetíveis de generalização.” (p. 41). Além disso, é importante destacar que como bem coloca Zanten, é importante que se defenda a construção das pesquisas qualitativas baseadas em estudos empíricos, sendo esta uma das formas de validar e embasar a qualidade das pesquisas. (p.42). A partir do mencionado, vale destacar que a autora traz uma temática extremamente válida no que concerne a análise da pesquisa qualitativa, ao apontar “diferentes maneiras” de refletir e pensar os problemas que são atualmente apresentados no campo “das pesquisas em educação, sobretudo, de tipo qualitativa”, Zanten, oferece ao leitor uma análise crítica reflexiva das relações que vem sendo construídas historicamente entre pesquisador e pesquisado.(p. 44)




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