Referência:
ZANTEN, Agnès Van. Pesquisa
qualitativa em educação: pertinência, validez e generalização. In: Perspectiva.
Florianópolis, v.22, n. 01, p.25-45, jan./jun.2004.
Palavras-chave:
Investigação qualitativa na
atualidade. O campo educacional. Interferências sociais e políticas.
Essência da obra:
Ao realizar a análise em questão,
Zanten traz para o debate “uma visão global da investigação qualitativa” no
campo educacional tendo como marco histórico o período atual. A autora
ressalta o papel das transformações “sociais e políticas que devem conduzir a
uma adaptação dos métodos qualitativos de investigação.” Isto é, existe uma
interferência direta desses dois elementos (político e social) no processo de
produção da pesquisa qualitativa. (p. 25). Ao apresentar sua visão, Zanten
preocupa-se com “os problemas dos métodos e, sobretudo, a utilização dos
métodos qualitativos no marco da sociologia da educação.” (p. 26). Diante
disso, a autora destaca que outra preocupação concerne-se ao fato de que a
pesquisa qualitativa foi desenvolvida num determinado momento histórico “da
sociologia, da antropologia”, diante disso, ressalta ela, que o desafio está
em adequar tais métodos de investigação “a uma realidade que tem mudado, uma
realidade social, política, educacional que são diferentes.” (p. 26). É
relevante frisar que de acordo Zanten, “os métodos qualitativos que [são
utilizados] no campo da Sociologia da Educação são, em geral, herdeiros de
duas grandes tradições: [...] da Antropologia, da Etnologia do que chamamos
métodos etnográficos, e uma tradição da sociologia qualitativa.” (p. 26). E o
desenvolvimento desses dois métodos se deu no final do século XIX e início do
XX. Diante disso, é importante frisar que “a sociologia conserva uma grande
tradição de trabalhar com grupos marginalizados”, não sendo este o caso da
sociologia da educação. Zanten destaca dois aspectos relevantes da
investigação qualitativa: primeiro refere-se ao “desenvolvimento do
conhecimento, ou seja, cada vez mais encontramos sujeitos, atores sociais,
que têm um nível de instrução mais elevado [...], segundo, o papel que tem,
atualmente, o conhecimento científico como base de controle social, de poder
e de avaliação de nossa sociedade.” É importante frisar que, a produção de
conhecimento influencia diretamente “na reconstituição de posições de
dominação.” (p. 27). Além disso, a autora destaca as relações de poder que
são concebidas no decorrer da pesquisa, onde o pesquisador em geral é
colocado como sujeito dominador, entretanto ressalta que isso vai depender do
local onde se encontra esse sujeito investigado, sua cultura, política,
conhecimento, já que isso diz muito a respeito de quem somos enquanto
sujeitos. “Em muitos trabalhos sobre administração da educação, ao se
comentar os temas de investigação, deparamo-nos com administrador que diz: ‘eu
penso que sei o que você quer saber[...]. Assim, também com pais de
classe média alta que dizem: ‘eu penso que você tem interesse nisto.’
(2004, p. 28) Essa relação se apresenta de forma diferenciada quando se
trabalha “com grupos mais dominados, estes já estão familiarizados com a
pesquisa.” É importante notar que a dimensão social e política influência
diretamente no processo de relação de poder entre pesquisador e pesquisado.
De acordo com Zanten “as mudanças sociais e políticas, ainda que nas menores
situações do estudo, têm impacto e nos convidam a mudar nossa maneira de
trabalhar.” (p. 30). A autora realça a relevância de se considerar “as categorias de análises” [para ela,] “essa
problemática” se faz importante, a partir do momento que nos leva a refletir
sobre os resultados da pesquisa. A investigação no campo qualitativo
pressupõe que se entenda de forma global “as categorias que mobilizam os
atores para compreender a realidade e para atuar sobre a realidade.” (p. 31).
No que se refere “a validade das
investigações qualitativas, é preciso observar, na avaliação, que os
resultados das pesquisas qualitativas parecem, geralmente, mais abertos do
que no caso das quantitativas. No campo da educação, eles são mais presentes
e são mais difíceis de se trabalhar já que as pessoas se consideram experts
em educação.” (p. 32). Isso porque é um campo onde são apresentados
diferentes pontos de vista, ou seja, para cada pessoa as temáticas
relacionadas a educação poderão se apresentar sob variados entendimentos. Vale
ressaltar que como bem coloca Zanten, “todos os atores aplicam, de certa
maneira, métodos de investigação para interpretar seu mundo.” (p. 33). Sendo as
técnicas e o rigor científico o diferencial desse processo. A autora frisa
que é importante saber fazer a seleção do material empírico a ser utilizado,
ressalta, além disso, que para “estudantes investigadores iniciantes, a
dificuldade está em cortar o material, aceitar a renunciar a uma parte dele.”
(p. 35). Para Zanten, o objetivo da pesquisa não é somente buscar a
veracidade dos fatos, mas sim, em entender a lógica dos sujeitos pesquisadores, em outras
palavras, como eles interpretam determinada realidade e agem diante da mesma,
portanto, é relevante que se entenda “as categorias de interpretação que
acionam os atores”. (p.36). Nesse sentido, ao produzirem pesquisas, “os
autores produzem uma inteligibilidade parcial, sobre uma parte da realidade,
extraindo certos fenômenos.” (p. 37). No que se refere “a generalização dos
resultados”, para Zanten, existe uma tendência a não generalização dos casos,
onde cada caso se apresenta como único. Nesse sentido, ela destaca que é
importante que se construa “uma teoria de médio alcance” quando se trata de
sistemas educativos. (p. 38). No que concerne a “dimensão comparativa”, ela
destaca que “se temos uma situação local e outras situações locais que já
foram estudadas podemos recorrer às comparações para mostrar que há um
processo que é possível ou não de se generalizar, bem como de marcar os
limites da generalização”.(p.39). No que tange “a dimensão da generalização é
o trabalho de transição permanente entre o que revela de propriedades
relacionais, conceituais e estruturais [...] não parece pertinente opor a pesquisa macrossociológica
à microssociológica[...]. [A forma como se conduz a pesquisa diz muito sobre
os seus resultados, por exemplo,] quando vamos trabalhar, com fenômenos de
globalização, vamos trabalhá-los de maneira localizada. Quando trabalhamos em
uma pequena escola verificamos que está havendo um fenômeno de globalização
das políticas educativas.” (p. 40). Nesse sentido, para a autora “um bom
trabalho de pesquisa, requer a capacidade mover-se com facilidade entre dois
níveis e de mostrar que há uma margem de ação entre os atores mas, ao mesmo
tempo, que o comportamento dos atores refletem mecanismos, processos
estruturais e, portanto, são suscetíveis de generalização.” (p. 41). Além
disso, é importante destacar que como bem coloca Zanten, é importante que se
defenda a construção das pesquisas qualitativas baseadas em estudos
empíricos, sendo esta uma das formas de validar e embasar a qualidade das
pesquisas. (p.42). A partir do mencionado, vale destacar que a autora traz
uma temática extremamente válida no que concerne a análise da pesquisa
qualitativa, ao apontar “diferentes maneiras” de refletir e pensar os
problemas que são atualmente apresentados no campo “das pesquisas em
educação, sobretudo, de tipo qualitativa”, Zanten, oferece ao leitor uma
análise crítica reflexiva das relações que vem sendo construídas
historicamente entre pesquisador e pesquisado.(p. 44)
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domingo, 18 de outubro de 2015
Fichamento do texto: "Pesquisa qualitativa em educação: pertinência, validez e generalização"
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